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04 outubro 2006

Habemus Papam: um
Et Spirictu Santi? Quantos?

As ameaças que sofri em meu endereço eletrônico depois de haver sido publicado na última quinta Santa, neste Jornal, um texto de minha autoria, intitulado “Vida longa ao Papa...”, passaram a se concretizar com uma rapidez enorme e incontrolável descompostura desassossegadora de qualquer protomaterialista que ainda possa existir.

Tanto as mensagens quanto seus autores e autoras sugeriam que meu texto comportava heresias e expelia tom agourento acerca da longevidade do Sumo Pontífice, Karol Wojtyla, além de falsas acusações e pretensões irônico-intelectualistas.

Tenho me achado um tanto triste por nenhuma das ameaças serem de autoria de algum professor PhDeus da Universidade – ofendido com minhas ironias, ponto principal do texto para quem entende um pouco de redação –, e somente de apaixonados católicos da fração majoritária reacionária da Santa Igreja Católica, a Renovação Carismática.

Ironicamente, as ameaças vieram de pessoas autoproclamadas católicas; por sinal muito embebidas de um cristianismo vulgar e sem paralelos em outras seitas. Quem, de fato, teoricamente carregaria compreensão e compromisso com o perdão, acabou por desferir as piores e mais ridículas ameaças de corar qualquer verdadeiro apóstolo e o próprio Jesus.

Quando falava de “Vida longa ao Papa” no texto, me referia expressamente à vida da pessoa Karol Wojtyla e aí não havia ironia, e sim quanto ao cargo que ele ocupava no momento. Uma das ameaças, em tom quase de profecia, foi cumprida: o mundo ficou sem mais uma pessoa quando ele faleceu. No mesmo dia faleceram outros milhares de pessoas, inclusive brasileiros que até alguns nós conhecemos, mas a mídia sedenta de audiência não se dedicou a mostrar nada ou pouca coisa fez.

Agora, depois da publicação daquele texto, estou de certa forma arrependido. Todas os dias sou acometido por revelações divinas apocalípticas sobre coisas antes inimagináveis, tais como lugares a que sou arrebatado por meio de viagens abissais, as jogatinas e falcatruas pelo mundo afora, o germe da maldade do homem e da mulher, as ideologias religiosas que mascaram a verdade sobre aquele que me conduz pela mão como se fora meu Dono e me mostra como as coisas são em sua essência, na mais límpida das visões como se fossem reais e palpáveis. É assim que relato adiante um arrebatamento em sonho ocorrido nesta terça-feira, dia dos Índios, a que fui submetido.

“Eis que uma luz vermelha muito brilhante e viva vinda do horizonte se aproximou de meus olhos e vi que tinha uma forma indefinida mas que era quase possível tocá-la; senti que poderia fazer isso mas não conseguia ver os meus dedos nem tampouco meu corpo. Percebi que estava suspenso por ela e dentro de seus limites, mas apesar de estar envolto por esta luz, ela não me cegava; assim, por onde estava indo e o que havia sob meus pés, conseguia ver tudo como se fosse aumentado por uma lupa.

Eis que chegamos a um lugar muito bonito e de igual brilho, porém mais real e concreto e do alto uma voz quebrou os murmúrios que ouvia, e ela dizia assim:

– É chegado o tempo de rasgar as vendas que eu mesmo amarrei em todos que vês! - ela disse apontando-me para uma multidão de cerca de um bilhão de seres.
– Mas não estou vendo as vendas!? – respondi em tom de pergunta.
– Porventura não percebe tu que tudo isso não passa de um simulacro? Que tudo que vês é pura encenação? Pompa e badulaque?

Naquele momento a voz me pareceu um tanto conhecida; quem haveria de dizer-me ´badulaque´, fiquei pensando enquanto Ela listava o que eu deveria fazer e o modo como executar.

Será que Ela, a voz, era de Deus e Ele era de Minas? Badulaque... badulaque... fiquei matutando. Até que finalmente Ela disse:

– Meu servo, vê tu que já publicaram o “habemus papam” e que ele vem da Baviera alemã? Pois bem, siga-o em tudo que ordenares, pois ele representa a minha vontade e o meu poder sobre a face da Terra.

Então, naquele momento, minha visão ficou mais lúcida e pude ver as coisas como que por dentro, como se estivessem do avesso e foi aí que eu entendi que era exatamente o contrário do que eu estava imaginando, tudo estava de ponta-cabeça e a realidade me parecia assim também. Nesse momento pensei em perguntar à Luz – mas ouvi minha própria voz como que em um alto falante – como tudo aquilo estava ali e eu não havia percebido? E Ela respondeu-me:

– Meu servo, não vê tu que ficastes sem a venda?

Foi quando olhei para o lugar em que meus pés deveriam tocar e eis que me surgiu uma espécie de tecido colorido, mas no lugar dos fios pululavam minúsculas letras formando palavras e seqüências inteiras de imagens e sons em movimento e pude reconhecer algumas, não, muitas delas! Com coisas parecidas como aqueles filmes hollywoodianos falando bem dos EUA e mau do resto do mundo e novelas intermináveis da Globo que ridicularizam a classe trabalhadora. Vi também coisas parecidas com os telejornais voltados para a classe média com suas lindas e desnecessárias previsões do tempo e receitas de comidas caras e programas de auditório que se aproveitam das agruras de pessoas pobres em função de audiência... e tudo aquilo era como se estivesse interligado por seres, com fios vermelhos saindo de suas cabeças e se conectando a um conjunto de sons e imagens, e dele partiam em direção às cabeças fios coloridos, de modo que este conjunto era projetado em uma tela que ocupava o lugar onde deveriam estar seus olhos e de suas bocas também saíam luzes coloridas e distorcidas rumo aos auto-falantes instalados no lugar de suas orelhas e assim por diante em uma cadeia interminável, a parecer uma grande teia. Seus músculos enviavam uma energia muito densa para grandes baterias postas sobre suas cabeças e estas alimentavam uma gigantesca aranha de sete caras, vestida de uma armadura metálica quase indestrutível até, com poderosas garras e tinha sobre cada uma dois diademas muito brilhantes e verdes com efígies estampadas em alto relevo e palavras e números.

E um amontoado de perguntas me pareceu passível de respostas, pois a Luz transbordava erudição e serenidade. E, então, apesar de ter a oportunidade de conhecer mais coisas difíceis, minha boca se abriu e dela saíram simples perguntas, mas cheias de espinhos e agulhas reluzentes:

– Oh, Luz, quanto a Santa Sé haverá de lucrar ainda com a morte daquele Papa e a “eleição” deste novo? – E antes que houvesse resposta me vieram outras perguntas, uma atrás da outra sem tempo de bolhas no vinho e fumaça no charuto!
– Quanto as redes de TV dos países preocupados com o lucro nojento através das desgraças haverão de ter embolsado? E a Rede Globo com as tomadas feitas pela mãe do filho de Fernando Henrique diretamente do Vaticano?

E mesmo que eu só pensasse, as perguntas saíam sem eu abrir minha boca. Eram uma projeção mental que se ouvia de longe. As TV´s não noticiaram praticamente nada sobre a chacina no Rio de Janeiro (31 pessoas assinadas por policiais, pelo menos), ocorrida na mesma semana da morte do Papa; seus plantões e telejornais se dedicavam exclusivamente ao estado de saúde, à morte, ao funeral, às missas de sétimo dia, ao maledicto Conclave e sua composição, especulações a respeito da “eleição” desde os perfis idiossincráticos dos cardeais, a “necessidade de um Papa do 3º mundo”, linhas de atuação do novo Pontífice, correntes e tendências sabidas, se conservador ou progressista, as primeiras votações, fumaça branca ou fumaça preta, se toca ou não o sino e pronto, Habemus Papam! O tão esperado anúncio e, temos de admitir, mais uma vez o alemão chegou na frente! Ratzinger, Rat Singuer, Rat Singue, ninguém sabe; seu perfil e currículo, sua devoção e alinhamento às práticas de João Paulo II, seu combate ao Marxismo e ao Comunismo (como se o combate fosse um atributo bom e necessário!), à homossexualidade, ao ordenamento de mulheres, ao aborto e sua propensão absolutista.

Eram apenas reflexões e lembranças minhas, mas o semblante Dela era de resposta imediata assim que eu parasse de pensar. Com todos aqueles assuntos vindo em minha mente, fui ficando atordoado com a pasmaceira do mundo, mas de sobressalto me instigou uma questão que não hesitei em fazer:

– Oh, Luz, que tudo sabe! Quantas Pombas (Espírito Santo) existem? E se é que existem, elas não representam um pensamento único, a vontade de Deus?
– Qual o motivo da indagação, meu servo? - disse a Luz.
– Oh, Luz, perdoe minha nova visão, mas almejo saber se existe mais de um Espírito Santo, pois se porventura for verdade que Ele é quem revela aos cardeais o nome do novo Papa, por qual motivo haveria de existir mais de uma votação? Não é revelado por Ele? Como precisam de várias votações até que alguém consiga o número de votos necessário? Não haveria de ter consenso logo na primeira votação? Há também no Céu uma eleição para decidir quem vai ser o escolhido a ser revelado aos cardeais? Por que se pediu aos cardeais que não deixassem fundamentalismos regionalistas exercerem influência sobre suas decisões? Os votos em nomes diferentes seriam fruto de quê? De interesses políticos? Econômicos? Ecumênicos? Por que as pessoas católicas estavam a torcer como por times de futebol, em uma Copa do Mundo? Será que elas já estão com a nova visão e perceberam que é tudo um jogo de interesses? Que é pura política? Ou aqueles que estavam lá na frente das câmeras de TV eram apenas turistas querendo mandar “... um beijo pra minha mãe, pro meu pai, pros meus irmãozinhos, pros meus amigos e pra você!”, como no programa infantilóide da Xuxa? – disse isso tudo e fiquei esperando as respostas.

Um som de máquina registradora cortou o ar como um trovão, ecoando até que surgiu um outro, de cofres se abrindo e burburinho típico de bolsa de valores e uma imagem foi se afigurando, tomando formas até que irrompeu bem grande e imperioso, um majestoso cifrão todo enfeitado com milhões de logotipos e marcas estampados em suas laterais com a frente em ouro e diamantes incrustados.

A luz foi se esvaindo e ficando sem cor, não era mais aquele vermelho vivo, pulsante e aveludado como de início... então, comecei a sentir uma dormência em meu braço esquerdo, como se estivesse pesado e sem movimento; assim, passei a me perguntar se estava sendo punido por minhas indagações; daí uma voz misturada a uma musiquinha conhecida de quase todos os pobres do Brasil soou retumbante: “Globo e você, tudo haver! Fique agora com Vale a pena ver de novo!”, então me despertei e vi que havia adormecido durante o Jornal Hoje, sobre meu braço...”.

Agora compreendo o significado da resposta em forma cifrão e me lembro com o que se parecem aquelas imagens coloridas nas telas e o som que permeavam minha revelação; são da abertura e final do Vídeo Show! Nossa, como eram parecidas! Até parece que a idéia da abertura foi revelada pela mesma Luz que agora me guia sempre!

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nômade, de qualquer jeito e em qualquer tempo...

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"...eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim, meu mundo é hoje, não existe amanhã pra mim, eu sou assim, assim morrerei um dia, não levarei arrependimentos nem o peso da hipocrisia..." Paulinho da Viola