Reclamar faz a diferença contra o racismo institucional?
A imagem abaixo foi capturada do serviço de mensagens eletrônicas (e-mail) da Universidade de São Paulo (USP), no dia 04 de junho de 2007 - às 16:58 horas.
Aparentemente não havia nenhum defeito técnico com o serviço, a não ser o de estar ali um visível problema histórico a que boa parte dos brasileiros vem sendo submetida desde os anos iniciais da colonização dessas terras.
agora a mesma imagem com destaque:
Logo em seguida, escrevi a mensagem abaixo para o serviço de atendimento aos usuários do webmail e também à Seção Acadêmica do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE-USP), ao qual sou vinculado como aluno.
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data: 04/06/2007 18:11
assunto: "Lista Negra"...
enviado por: jhrguaicuru@gmail.com
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olá, consultor(a)
gostaria de saber o que é "lista negra".
por acaso isso é o equivalente a "Lista de mensagens/remetentes indesejáveis"?
entendo que o uso desse termo já está consagrado como ideologia dominante do que é bom, sendo branco, e ruim o que é negro, preto, etc...
termos como esse já são conhecidos de boa parte de nós e também temos a dimensão redutora que carrega, como também "ovelha negra", "patinho feio" - porque negro ao nascer - "a coisa tá preta" e assim por diante.na atual fase de consciência democrática e de respeito as diferenças étnicas, políticas, culturais, religiosas, etc, não nos soa bem termos que carregam embutidos em suas idéias, discriminações e preconceitos desse tipo, já bem conhecidos da universidade, ainda mais a que tem o porte da USP.
não tenho dimensão do que significa alterar o ícone para outra proposta, em termos de informática e programação, essas coisas..., mas sim sobre o que esse tipo de mascaramento da realidade pela falsa democracia racial - tão propagada - pode acarretar no endurecimento de idéias distribuídas pelos veículos representantes de uma "etnia" branca e "superior" em usuários desse sistema.
creio que alterar o termo para um outro que diga exatamente o que significa seja menos difícil do que enfrentar os mais de 400 anos de escravidão e discriminação das etnias africanas e indígenas e suas resultantes miscigenações, ou mesmo ter que "aceitar" esse tipo de idéia exposta numa tela virtual de uma grande universidade.
creio que o espaço do endereço eletrônico também deve ser discutido com seus usuários, principalmente em relação a questões como essa, por exemplo, pois a universidade é um dos poucos lugares em que se pode fazer isso sem prejuízo do engrandecimento de todos perante as divergências.
obrigado.
no aguardo de sua resposta, subscrevo-me.
E.d.: Em tempo, envio uma cópia para a reitoria adequada para pronunciamento sobre a questão.
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No entanto, não obtive respostas nem da secretaria do MAE e nem do Centro de Computação Eletrônica da USP (CCE), responsável por desenvolver e manter o serviço de mensagens eletrônicas da universidade.
Mas no início deste mês entrou em atividade a nova versão que estava em teste (que apresentava o assunto acima).
Surpreendentemente traz as mesmas funções para os ícones questionados, conquanto com novos nomes!
veja abaixo:
A dita "reclamação" pode não ter sido a motivadora da mudança em última instância, mas o que se espera, minimamente, de uma instituição pública produtora de conhecimento e formadora de idéias e pessoas, foi garantido.
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