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13 setembro 2008

os Guaicuru e o processo "civilizatório" atual

cartaz de divulgação - guache sobre cartolina - ano 2001, por jhr


o texto a seguir é um tanto fora de agora, mas já fez parte da história em outros tempos. no ato de fundação de um grupo de estudos sobre o neoliberalismo, em 2001, articulado por alguns estudantes de graduação na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), do qual tive o prazer de fazer parte de sua proposição e o desprazer de vê-lo sucumbir ao descrédito e à falta de fôlego de nossos camaradas, sob perseguições delinqüentes por parte de neoconservadores institucionalizados e escondidos atrás de regras autoritárias e "legais" - trazia à entrada das proposições ilustrando um emblema de nossas aspirações revolucionárias, rebeldes, sobretudo anti-FHC.
creio que possa ser taxado de saudosista o texto a seguir, mas ainda o tenho como vivo:



 

"Carga da cavalaria Guaicuru", de Jean Baptiste Debret - 1822


o início do século XVIII, por volta de 1740, os Guaicuru eram no tempo verbal histórico no trato positivista, o maior entrave à ocupação desses sertões (pantanal mato-grossense) pelas bandeiras de aprisionamento de indígenas, como assim os definiu um grande estudioso da História do Brasil, Sérgio Buarque de Hollanda, em seu livro Monções.

Representavam um grande problema aos portugueses e já brasileiros (chamados paulistas), pois, além de serem exímios guerreiros eram aliados de outra nação, a dos Canoeiros ou Paiaguá. Seu mérito está em utilizar um tipo de montaria muito sofisticada por eles inventada, em que era bastante adaptada para o estilo de combate ali travado, onde consistia em segurar-se com uma das mãos na crina do cavalo e sustentar-se com um dos calcanhares (o do mesmo lado da mão) e “escorregar-se” quase para debaixo dele, só se levantando nas proximidades do inimigo (espanhol ou português/paulista), tudo isto em plena cavalgada!

Para além dos mitos que se criaram em torno desse povo, o fato é que deram muito trabalho também para os espanhóis, a ponto de estes haverem negociado com os Paiaguá secretamente, donde houve o rompimento entre os dois povos, configurando aí o início da diminuição de influência dos Guaicuru naquela vasta região.

Suas técnicas variavam entre os combates com cavalos, emboscadas em curvas acentuadas dos rios e até apedrejamento. Esta última consistia em esperar as monções em lugares que o calado do rio era muito acentuado, ou seja, naqueles lugares em que o rio era estreito e os barrancos muito altos, e daí, quando estivesse boa parte das monções no estreito, arremessavam grandes blocos de rochas a fim de as afundarem. É de se imaginar o desespero dos comboieiros, tanto dos que estavam recebendo as “pedradas” quanto daqueles que ainda não haviam chegado; como a água nesses lugares, apesar de parecer serena, é muito veloz, então, era quase impossível não sofrer os ataques.
Havia uma certa orientação político-ideológica na questão dos combates, pois aqueles efetuados na subida das moções visavam recolher-lhes seus mantimentos e provisões, deixando os que sobrevivessem sem qualquer meio para continuar viagem ou mesmo se alimentar. Já os ataques da descida eram, sobretudo, para afundar o que os portugueses haviam retirado de suas terras.

Dessa maneira, os Guaicuru não só representam a resistência à ocupação de seus territórios, como também a resistência à ocupação/modificação de suas idéias. É assim, com este propósito, o de resistir aos ataques ideológicos freqüentes à nossa liberdade de pensamento e ação, que o Grupo Guaicuru de Estudos sobre o Neoliberalismo foi formado, visando mostrar como funcionam os mecanismos de dominação engendrados e disseminados por ideólogos de países imperialistas, como é o caso imediato dos Estados Unidos da América, e também assumidos deliberadamente por seus agentes cães de guarda brasileiros que ladram por meio de revistas (Veja etc) e telejornais (Globo, Band, SBT etc). 

Além dos estudos que possibilitam uma visão mais crítica do tema, divulgaremos as medidas sugeridas pelo resultado dos estudos do Grupo, em que tratam de como pequenas ações podem fazer a diferença.

Um bom exemplo é o de reafirmação da beleza e funcionalidade de nossa língua. Experimenta substituir “CELLULAR”, palavra inglesa, por “TELEMÓVEL”, palavra portuguesa para designar “aparelho telefônico móvel”, ou simplesmente por "TELEFONE",  e verás o susto ou indagação do que é? Tão grande é a dominação a que estamos submetidos. Depois ousa outras palavras para comprovares, como exemplo, “ENDEREÇO ELETRÔNICO” ou "CARTA ELETRÔNICA" em substituição a “E-MAIL”...

Se não te amedrontas com a chacota ou o riso alheios, experimenta usar "SÍTIO" (em português) no lugar de "SITE" (do já massacrante inglês), que, afinal, são a mesma coisa em ambos os idiomas. 

Mas que raios preferimos "site" a "sítio", se essas palavras dizem a mesma coisa?!

Tira tuas conclusões...

E aí vai...

o
bs.: texto introdutório de fundação simbólica do Grupo de Estudos sobre o Neoliberalismo - março de 2001.

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nômade, de qualquer jeito e em qualquer tempo...

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"...eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim, meu mundo é hoje, não existe amanhã pra mim, eu sou assim, assim morrerei um dia, não levarei arrependimentos nem o peso da hipocrisia..." Paulinho da Viola