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25 setembro 2006

Vida longa ao Papa...

No início do ano 2005, da graça do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, um momento difícil assola nossos corações. Nos encontramos frente a mais uma recaída do chefe supremo da Santa Igreja Católica ao qual precisamos unir força, em torno de uma corrente de oração, de modo que a energia de todas as preces o conserve em vida e que a prolongue por muitos e muitos anos.


Vós que estais lendo estas simplórias mas sinceras palavras, crede e sereis recompensados, pois mesmo que não façais em pedido todos os pontos que sugiro adiante, Ele, o Senhor, vos perdoará; podeis até argumentar que não sois católicos, todavia devemos todos nós orar, rezar, solicitar, enfim, independente do credo (ou a falta dele) a que estamos ligados ou convergindo, pela vida de um ser humano.


“Oh, Senhor Deus das alturas! Atenda nossa oração em favor da alma e da vida de Karol Wojtyla, o Lolek de sua querida mãe, mais conhecido como Papa João Paulo II, nosso mais alto representante da Igreja Católica, sediada no Vaticano, o menor país do mundo e que, proporcionalmente detém a maior concentração de renda do planeta; interceda por ele, oh Senhor! Dê bastante vida a ele a fim de o munir de tempo para repensar as posições reacionárias tanto suas como da Instituição frente a questões de ordem, como a fome na África subsaariana, os conflitos de terra no Brasil e em vários países, o celibato e homossexualidade fora e dentro da própria Instituição, o aborto e a proibição do sexo que não for para fins reprodutivos e do uso de métodos anticoncepcionais, a pesquisa genética, a participação acionária da Igreja em empresas bélicas, a arrecadação de dízimos em regiões onde reinam a fome e a desnutrição, a exemplo do nordeste brasileiro, oh, Senhor!
Que ele tenha tempo para rememorar também as ex-comunhões praticadas nos últimos anos acerca de alguns de seus dirigentes latino-americanos, progressistas até, que convenientemente a Igreja os congrega dentro de uma “Teologia da Libertação”, a fim de combater as críticas a respeito de seu total reacionarismo, em que os representantes brasileiros punidos até o momento são o padre Leonardo Boff, submetido à Santa Inquisição no final dos anos 90 e recentemente a substituição do bispo Pedro Casaldáliga, em São Félix do Araguaia, região que concentra boa parte dos conflitos mais violentos sobre a posse da terra no País, em função de seus posicionamentos a favor dos oprimidos.


Que tenha saúde para rever o alinhamento da Igreja às elites, oferecendo suporte e optando pelos ricos em detrimento da maioria pobre que a enriquece; que tenha disposição para, na próxima encíclica (que acate nossa humilíssima sugestão de título “Fides et Ironiae”), abordar e explicar a ironia desta opção, pois quem de fato enche seus cofres não recebe nada em troca além de ideologia burguesa na forma de sermões em missas e reuniões.


Que Tu oh, Senhor, lhe dê prazer e razão para discutir a manutenção e conservação dos prédios (templos, mosteiros e seminários, etc.) com os recursos já arrecadados dos clientes, em detrimento da abertura de festas e quermesses e campanhas de donativos para esse fim, pois como nós, tu oh, Senhor, sabes que qualquer empresa capitalista no planeta conserva e mantém seus prédios e maquinários com a mais-valia subtraída de seus operários e do lucro de seus investimentos.


Que também o faças pensar ao menos na questão da reforma agrária nos países em que a Igreja detém propriedade de grandes extensões de terra, como no caso do Brasil – cerca de 300 mil hectares improdutivas, segundo dados oficiais tanto eclesiásticos quanto governamentais.


Oh, Senhor meu Deus, ajuda-o a doutrinar melhor seus imediatos hierarquicamente desde sua Casa – Vaticano - até as paróquias locais enfatizando o caráter uno de Sua natureza, instrumentalizando melhor os padres de modo que combatam as idéias politeístas de auto-afirmação muito disseminadas na Universidade, numa concorrência desleal desses PhDeuses “cristãos”, pois estão imediatamente de corpo presente (às vezes) em contato com Seus seguidores, em detrimento de Sua presença um tanto invisível para aqueles que não sabem o que é o dogma e o dever da Fé; às vezes, se valem justamente disso, oh, Senhor das Alturas!


Oh, Deus meu e de todos que crêem em ti, queira nos ajudar a argumentar a seu favor acerca da concorrência imoral e anticristã praticada aqui na Universidade; como Tu nos ensina, oh, Pai eterno, mostra a eles que És justo e honesto como fora Seu filho no passado aqui na Terra, em que fazia milagres, pregava o amor entre as pessoas, a solidariedade, o desapego às coisas materiais e, principalmente a HUMILDADE, que mesmo sendo Seu filho, nunca se aventou a dizer blasfêmias e auto-bajoujos a se considerar também como Deus!


Faça-os entender que se querem manter essas hipocrisias de auto-consideração de PhDeuses
, devem no mínimo ousar Honestidade e coerência com o que dizem e praticam, deixando de lado a apropriação indébita do dinheiro dos trabalhadores e trabalhadoras subalternizados, inclusive e principalmente seus fiéis, na forma de descumprimento de contrato fixado com nossos governantes terrenos, ora conhecida como DE – Dedicação Exclusiva; faze tu, oh, Senhor, todo poderoso, entenderem que se optaram por se dedicar exclusivamente à Universidade em troca de muitíssima boa parte do que recebem, devem ser honestos Contigo, coerentes com seu proto-auto-endeusamento e, principalmente, com o povo brasileiro; pois até mesmo a cachaça comprada por aqueles “pinguços” que, geralmente desviamos o olhar ao passar por eles, com receio de ter que dar uma esmola, tem uma carga de impostos que acabamos por pagar e é desse montante que os PhDeuses recebem sua remuneração.


Dá tu oh, Senhor de misericórdia, luz e razão para perceberem que mesmo não sendo Deuses não devem continuar a expropriar o dinheiro do suor dos trabalhadores e a dizer indecências sofistas, tentando ludibriar os alunos – propagadores de seus engodos, em sua maioria.


Mostra ao povo também em sonhos a revelação que me fizeste e dá vida longa a esses “Deuses” para perceberem o insulto que ora praticam e determina tu, oh, Longânimo, que peçam desculpas pelo mal que fizeram e ainda fazem, mas sobretudo seja bondoso com eles, como Tu o és.” (selá) Amém!

22 setembro 2006

...sem o chapéu e o chicote... arqueologia como trabalho e como ferramenta de transformaçào e construçào participativa dos rumos da Història-realidade...

fàbrica de louças Sta Catarina, do inicio do séc. XX, bairro da Lapa, Sào Paulo, Brasil.
Ódio triunfal da Paulicéia?
(impessão sobre São Paulo)

Não, não é. Mas também não vi ainda por qual’é ela qual’é coisa, mas me tenho achado numa encruzilhada literária de influências, onde não sei se assumo um tom do Pessoa ou se do Andrade, mas o fato é que me trazem bem a cólera e a acidez de ambos, sem me enroscar nas amarras do conceito de crônica, mas não fugindo da tentativa de imprimir um ritmo de deslumbramento pela ausência de parágrafos. Então, nada de estranho se leres logo em seguida uma conversa entre os dois e traduzida por mim, claro, com o empobrecimento já esperado. E o que me vem é...


"À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
(...)"

e eu acabo aceitando o convite de ir à metrópole, sentir-me como se sente um colono em meio a Corte, deleitar-me com os progressos contidos nos esmerados centros tumultuados, a digestão bem feita do santo São Paulo, onde o mundo é o mundo, e é do tamanho disto, beleza incomparável, sucesso desmedido, e eu, desacreditado e deslumbrado num só, criando e recriando meus conceitos e preconceitos, reelaborando-os às vezes. Ah, quem me dera ser um eterno colono para sempre poder enclausurar-me no meio disto tudo! Comprar, vender, comer, olhar para cima e estar sempre a dizer indecências sobre a capacidade dos homens de construírem tudo aquilo e isto e aquilo e aquilo outro. Nossa! Como eu queria rolar por estes prédios acima, me atirar dentro dos rios imundos, destas lojas sofregadamente indubitáveis e criativas a estar sempre nos arrastando para o seu seio, maternal. Como gostaria de encher os meus dias de não querer mais deles se fosse para viver aqui! Oh, criatividade sem limites! Oh, viadutos, corre-mãos longuíssimos do tamanho do progresso, oh máquinas em fúria, fúria descontrolada das multidões na 25 de março, oh supremacia das máquinas sobre os homens! Pedestres atropelados, abalroamentos transitivos e intransitivos, intransitáveis, gente presente nos amontoados nos montes, montes de humanos rasgando suas dignidades por um pedaço de pão! Ah, como eu queria andar sem medo pendurado em um vagão do progresso, o calor das estações do metrô, andar férreo, subterrâneas, soterradas e lânguidas, pobres e contidas esperanças dos humanos amontoados, crianças chorando, também sendo adultas e adúlteras fora do tempo, e não por opção! Ah como seria bom ser vergastado por um pichador numa noite de ação de "graças a Deus tenho aqui um pedaço de rocambole meio sujo que tirei desta lata!" Não aceito criares em mim conforto algum! Necessito das chaminés das fábricas, dos automóveis, das prostitutas, dos vendedores ambulantes, "na minha mão é mais barato!", ah, como eu queria ter muitos dinheiros, dos mais variados, para comprar de todos os camelôs todas as suas mercadorias, seus corações, suas mentes, como fazem os capitalistas, só que para poder ver em seus olhos, alguns apenas com um, outros nenhum, mas para sentir seu crepitar de alegria de que cumpriu a sua missão! Tomar ônibus errados para sentir o calor humano e sujo e também fétido, pois é humano e afinal tem alma lá dentro! Ser espremido em um canto, jogado para outro com as derrapadas nos pares e nas curvas, ah ser esmagado contra o vidro e ser xingado por um brutamontes prestes a me socar, mas tudo bem! Afinal está cansado! Que prazer em ver as inúmeras filas, brigas, telefones públicos sendo socados, depredados, frente aos progressismos dos telefones móveis! Ah, ouvir os mais belos assassinatos da última flor da Láscio, inculta e bela! Insultos à Língua inglesa, como soa bonito - e eu acho isto belo! – ser-serv na hora e na boca da fome, cellular para falação à distância, de maneira móvel, nobreique por bateria de segurança, pêiper por documento, – substituição do nosso idioma, adoro as correrias, panfletagem, cartazes, bueiros de cheiro horrível, bancas de jornal que ninguém lê; ainda tem os desempregados, os balconistas atrás daqueles vidros sujos; maltrapilhos, mendigos, esmoleiros, garis, lixeiros e lixeiras abarrotadas, mas também muito lixo espalhado nas calçadas remendadas que quase não se consegue andar! Portas de vidro fumê, e santas a aparecerem por todas as janelas, numa espécie de romaria de pecados em não adorá-las, ah, vossas senhoras dos vidros fumês! Incêndios nas favelas, ligações elétricas clandestinas, lâmpadas sem rima, mas a vapor de mercúrio e tungstênio, branquinhas, reluzentes. Ah, como é belo ver adesivos de oferta de serviços ‘amorosos’ pregados nos telefones da Paulista, táxis caríssimos e ofegantes, prontos para levar alguém que tenha o que fazer não sei quê em alguma parte. Museus, livrarias, cafés e gente se entupindo de comida a vapor, literal e metaforicamente falando, fast foods, borracharias, avenidas, padarias e lojas de vender tudo, contrariando os outros que têm o mesmo interesse e os pulmões cheios de poluição para poder anunciar seus produtos. Pescar peixes nos rios caudalosos e límpidos do pantanal, ah, isso não tem graça! Quero mesmo é mergulhar nas imundícies dos Tietês da vida, enlamear-me nos restos das fábricas, oficinas e indústrias dos Tamanduáteís e dos Pinheiros que não nascem à sua volta nem mesmo em época de natal à moda dos nórdicos industrializados e desenvolvidos, que sempre têm o que botar dentro das meias! Ah, cheiro de óleo queimado derramado nos canos dos postos de combustíveis fósseis para os futuros fósseis de pouca duração, geralmente cinco ou seis anos! Computadores, como eu queria entrar em todos eles! Como a um vírus. Rasgar-me todo em meio a chips, "placas-mãe", programas, janelas, diretórios, gerenciadores, ahrg, chutar seu cérebro e zombar de seu ‘pensamento’, que se danem os hardwares e os softwares, quero mesmo é correr atrás de um mouse até ele vire um rato! Sistemas operacionais alternativos em larga escala, como as alternativas dos ambulantes que vendem por dez o que se compraria por uns quinhentos dinheiros nas mãos de "originais", e quem me dirá que aqueles dos camelôs não são tão verdadeiros, reais e ‘originais’, que louvo e glorifico e, também cago para as patentes de quem quer que sejam bills ou sistemas de proteção ao mercado interno, barreiras alfandegárias, subsídios e incentivos fiscais aos estrangeiros, cogumelos da vida eterna! Percorrer deleitosamente a magnitude da última filha do telégrafo, na rapidez divina e espetacular da Rede, trocas de informações simultâneas tão criativas e maravilhosamente comprometidas com a avidez do acúmulo inexorável de riquezas! Embebedar-me todo das transmissões malignas dos satélites e sondas espaciais tupiniquins, frente à fome desmedida de quem nunca tem uma política que lhes seja destinada. Surpreender-me por inteiro com os virtualismos virulentos neoliberalizantes das bolsas de valores, pregões, compro tudo, ações despencando, corações enfartados, acionistas, especuladores, zombeteiros de plantão das desgraças alheias, canais a cabo, ah, tudo, como eu imploro o controle de tudo isto sobre mim! Como amo a invenção da figura do Bandeirante como exemplo a ser seguido pelos paulistas e seu culto! O último dos heróis inventados. Embasbacar-me frente ao uso de entorpecentes, assaltos, resgates, ah, como é belo um resgate! Os assassinatos nos jornais sofridamente assistidos pela gentalha, como amo essa mesma gentalha que ouve e assiste a programas de auditório, r-r-r-r, exposições, corpos semi-nus em plena avenida, pontes, tapumes de proteção a futuros moradores, de um e outro lado dos viadutos, mentes poluídas dos assaltantes de bancos, quer por via institucional através dos ‘empréstimos’ quer por vias criminosas através de pistolas e fuzis, sangue e tiroteios sem perdão! Chafurdar-me nos escombros, criar minha própria igreja e ensopar-me em todas as enchentes, ah, como são lindas, maravilhosas e ciciantes aquelas enchentes! Como é bom deitar-me nos escândalos financeiros dos figurões, jogatinas, falcatruas, desvios de dinheiro público, falsificação de uísques e balancetes finais das empresas visivelmente bem sucedidas, descaso público, ausência de políticas sociais, febens, carandirus e seus números, casa do governador, greves, sindicatos, pátios das montadoras, cinemas, escolas, canteiros de obras, como os amo a todos! Representai-vos o crescimento, a ideologia de que tudo vai bem, como são belas e difundidas as tais ideologias, quaisquer que sejam, são todas bem-vindas, a mim e aos humanos dos amontoados! Ah, como é bom ser um colono, poder enxergar o que a eles já lhes parece natural de tanto existir, querer viver eternamente um colono, caipira, caboclo, isso tudo faz parte de mim!
Ahh... hoje, hoje já nem sei quem sou mais, talvez um manipanço sobre a geladeira da instituição, um pobre caipira, que nem é mineiro nem pantaneiro, sem o queijo, o tereré, o tutu, o pacu assado, leite no curral, o guaraná ralado, goiabada cascão, araras, garças e tuiuiús, e a feijoada, então?! Estações divididas, ar puro e a beleza das águas do pantanal; hoje já era, amanhã já foi, assim o tempo não tem mais sentido, só para os patrões. E minha coragem perfeita de repetir igual façanha, a do Guimarães, já não encontra mais espaço em meu estoque de coisas a fazer! Bati em retirada de mim mesmo.

agosto de 2002 (para o concurso literário Mário de Andrade)


O fazer-se da cultura dos fazedores d’A terra do pau-de-tinta


"Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome – o Monte Pascoal e à Terra da Vera Cruz. (...) esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. (...) Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa."
Pero Vaz de Caminha (1500)




Ao que avistaram pois com grande espanto, traduzido nas palavras do cronista, deu-se nome provisório como encerraríamos este, depois, por sermos agraciados com outro, como brasileiros; qual seja, fazedores da Terra Brasilis, a terra do pau que se faz tinta. O sufixo eiro diz-nos daquele que faz, que constrói, que cria, etc., ao que juntaram brasil, nos remetendo àquele que faz o brasil, que constrói, que, enfim, cria o brasil.

Brasileiros para os portugueses eram aqueles marinheiros que vinham ter nestas paragens, alguma ocupação no sentido de construtores, "fazer o Brasil", como exploradores da madeira e de outras riquezas para o enriquecimento e a volta para Portugal. E desse termo se estendeu aos que aqui ficaram e até hoje permanece assim.

Ora, não era, com certeza, com bons olhos que nos chamavam por brasileiros; essa idéia foi recentemente construída – a da valorização inversa mesmo de termos jocosos e preconceituosos, como exemplo, o "descobrimento" tanto da América quanto do Brasil. E o que vemos é uma nova forma de se construir o que vem sendo experimentado desde há muito, a tentativa de feitura duma brasilidade, em boa medida não encarada anteriormente como positiva.

A construção ideológica de um sentimento de unidade em torno de uma nação, foi projetada política e intelectualmente sobretudo a partir da emancipação política do Brasil em 1822, depois de já ter sido sede do Reino Unido de Portugal; e um dos aspectos necessários a esta unidade, foi e é em grande medida a formação, conservação, recriação e transformação, enfim, a construção do processo sócio-cultural, onde em praticamente todos os povos são encontrados a preservação de seus estoques de informações vitais – elementos e dispositivos materiais e simbólicos da memória coletiva, dos mais ousados e diferentes registros, mitos, lendas e contos, construção épica, seus cantos, ritos e ritmos, saberes e imaginários e ainda suas mobilidades no decorrer do tempo – e o autoconhecimento. É muito comum que haja algo imposto militar e politicamente como no caso brasileiro, a fim de manter de forma forçada uma unidade até mesmo através de guerras e sufocamento de levantes populares e revoltas nas mais diferentes regiões da nação que se formava, em detrimento da espontaneidade e naturalidade com que se constróem tais idéias e sentimentos. Com grande êxito foi conseguida a manutenção da unidade territorial por estratégia da Coroa portuguesa, mesmo com o grande avanço das idéias liberais e emancipaciononistas de caráter republicano, a exemplo de colônias espanholas aqui na América Latina e principalmente da independência dos Estados Unidos da América, onde tamanha feita era símbolo do que poderia ser conseguido aqui.

Tanto no caso dos emancipacionistas quanto no caso dos absolutistas, lutar por essa unidade ideológica sentimental e induzida, era algo vital para lograr êxito em tamanha e ousada empreitada; e nesse caso, a dificuldade em torno de tais idéias era maior para os emancipacionistas que não contavam com o aparelho do Estado e nem com a adesão continuada e significativa da população, a começar pela diversidade étnica e cultural e, além de haver classes com diferentes projetos sociais, ainda havia a distribuição geográfica populacional de forma desigual e rarefeita no "País".

Em represália ao autoritarismo das políticas militares de manutenção e expansão territorial e o adestramento do "povo brasileiro" para o sentimento de nação, feito e idealizado sobretudo a partir de idéias estrangeiras, alienígenas, importadas da Europa, assistiu-se a uma verdadeira avalanche de idéias nacionalistas mas não como os governantes queriam por vias impositivas, e sim através do construir-se da nação partindo de nossos próprios olhos, uma nação com a cara do povo brasileiro, mesmo que de forma um bocado desajeitada e inocente, como no caso de alguns intelectuais nativos, mas que exaltavam sobremaneira o que sempre fora negado, qual seja, os modos, costumes, crenças, mitos e rituais religiosos, etc., reelaborados e criados justamente pelo contato e miscigenação dos diferentes povos.

Ao mero conjunto de suposições da superioridade portuguesa e européia presente nas elites brasileiras, apresenta-se de forma singular a tentativa de evidenciar um brasil negado, vilipendiado, até mesmo numa espécie de desdém, rebatendo todas as críticas inferiorizantes da participação e contribuição indígena e africana. No mais, "somos, por tudo isso, uma República Mestiça, étnica e culturalmente; não somos europeus nem ‘latino-americanos’; fomos tupinizados, africanizados, orientalizados e ocidentalizados. A síntese de tantas antíteses é o produto singular e original que é o Brasil".

Perante a intenção de minimamente mostrar esse outro brasil, o dos verdadeiros brasileiros, os reais construtores de si mesmos e desta Terra, boa parte da cultura letrada tupiniquim se enveredou em tão ditosa empresa, a fim de dar vez e voz ao povo oprimido e subjugado, mostrando a necessidade de reconhecimento de algo original, mesmo que resultante de mesclas variadas; numa espécie de metaculturalismo lexical, onde a linguagem tem um papel fundamental, usa-se dos elementos de nossa cultura, para poder entendê-la de forma mais abrangente e menos academicista.

O mais que se pode dizer da efetiva contribuição dos diversos autores, que mesmo antes do Movimento Modernista já figuravam nos cenários intelectuais e até mesmo populares, é que tiveram um grande papel em seu tempo, mas que sobretudo serviram de apoio e base e, quem sabe também da forma "de como não se deve analisar o Brasil e a cultura brasileira" aos intelectuais do movimento vanguardista da década de 1920, inaugurado na Semana de Arte Moderna em 22.

A construção, ou melhor, a evidenciação do "herói brasileiro sem nenhum caráter...", mostra como não se faz necessário encaixar e tentar adaptar o brasileiro aos moldes europeus, numa antropofagia cultural que nega em boa hora as políticas importadas dogmatizantes, na medida em que não há medida alguma a ser seguida, a ser copiada ou estabelecida ou ainda, imposta verticalmente. O que há de ser observado é o teor da liberdade de criação e reelaboração dos elementos constitutivos de nossa cultura, sem nenhum caráter obrigatório ou específico. E um dos campos que se desenvolveu tal agitação foi o da literatura, a língua como critério metalingüístico, para o engrandecimento de uma linguagem própria, na medida em que houve um forte entrelaçamento lingüístico-cultural pluriétnico e o conseqüente distanciamento do idioma da metrópole, onde esse tomou rumo desenfreado no momento em que aqueles dois grumetes fugiram da nau de Cabral para a aventura da "terra nova", simbolizando metonimicamente a ruptura.

Percorrendo não só o campo das Letras, mas também das leituras várias que fizeram do Brasil e do povo brasileiro, os intelectuais que mais se destacaram, como Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Manuel Bandeira, Monteiro Lobato, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Anita Malfati, Gilberto Freyre, Oswald de Andrade, etc., na defesa assídua desse projeto de valorização da cultura feita à nossa moda, não fizeram mais que escrever, pintar, cantar, enfim, interpretar e materializar o apreendido das manifestações populares em seus trabalhos – o que não deixa de ser significativo, pois o que se pretende fazer aqui, tal como eles quiseram, é mostrar o papel principal dos verdadeiros atores.

E não há como negar a contribuição de um grande leitor do Brasil, João Guimarães Rosa, em suas inúmeras obras, onde inaugura um novo olhar sobre a linguagem e os costumes sertanejos, revelando-nos uma visão muito aguçada de um outro Brasil, que não figurava até então nas análises já produzidas acerca da cultura brasileira. O linguajar do sertanejo não é negado em medida alguma, pelo contrário, é objeto de importância comparada à própria saga; desfazendo-se da obrigatoriedade da norma culta, Guimarães desenvolve o que há de mais real na fala daqueles que sempre tiveram papel secundário nas estórias e histórias vistas de cima, feitas por cima, para os que estão em cima, ou seja, sua verdadeira contribuição para a formação do Brasil.

A língua portuguesa, tal como aconteceu a outros aspectos de nossa cultura, foi amolecida pelos elementos lingüísticos africanos e indígenas; foi-lhe arrancada sua dureza fonética e lhe emprestada a criatividade dessa mestiçagem em recriar sons e idéias, surgindo daí a língua brasileira. Perpetuando assim movimentos de defesa dos nossos traços culturais de maneira sóbria, mesmo levando em consideração leis e medidas governamentais que sugerem obrigatoriedade e respeito às normas letradas, no caso da Língua Portuguesa em específico por ocasião da grande absorção induzida de estrangeirismos de proveniência sobretudo anglicista, ao que se deve responder não somente com um Rui Barbosa, mas com veemência e maior incentivo usando as genialidades de um Mário de Andrade e de um Guimarães Rosa.... A resistência mútua dos diferentes proporcionou algo tão magnífico que em nenhum lugar se tem tamanha diversidade de caráter em boa medida não-conflituoso e que se completa; a exemplo disso, nossa língua e a chamada cultura da festa. Nem é necessária a dedicação de um dervixe para entender a magnitude da recriação e lucidez do canto das belezas nordestinas nas vozes do povo, com grande mérito, traduzidas por Luiz Gonzaga em suas canções.

Neste sentido, o conjunto de transformações, elaborações e recriações do real apreendido constitui não só parte da vida do povo como mero espectador, mas como totalidade que se faz, que se constrói. É o povo se construindo justamente com as diferenças e particularidades, regionalidades e espacialidades, forjando o todo, criando seu próprio papel no desenrolar da peça.

E o que é um jequitibá na desordem das coisas?

Talvez fugindo um pouco à concepção aristotélica de como organizar as idéias - em início, meio e fim -, cheguemos a um resultado partindo por outro caminho, um pouco diverso é verdade, mas com um objetivo de narrativa experimental a ponto de desafiar não só esta tendência nas ciências, como também nossos próprios prismas de observação e reelaboração do apreendido e dele nossas representações.
Com o acirramento da implementação das políticas neoliberalizantes na maior parte dos países da América Latina e, principalmente no Brasil, um dos setores mais afetados e que já podemos notar com consciência de época, tal é sua perniciosidade, foi o campo da Educação como um todo.
O modelo implantado no Brasil tem pressupostos básicos ao seu funcionamento, onde as políticas públicas de caráter social são deixadas à parte, para dar lugar ao jogo de políticas que beneficiam os setores privados nacional e estrangeiro, adotando uma espécie de desobrigação do Estado de todas ações de caráter social, tendo como máxima, a política do "Estado Mínimo".
Neste sentido, a educação, tanto a pública quanto a privada, foi posta dentro dos mandamentos do modelo Neoliberal (para países pobres ou chamados bondosamente por cientistas alheios de "emergentes" ou industrializados).
Mesmo não havendo sido implantadas e levadas a cabo todas as propostas neoliberais, as conseqüências são desastrosas quando olhamos primeiro para o ensino superior, onde as universidades, faculdades, centros universitários, "fábricas de diploma", no âmbito privado, cresceram assustadoramente, a ponto de representarem, segundo dados do Ministério da Educação, 71% dos estudantes matriculados em nível superior, sem levar em consideração as pós-graduações. Aos 29% dos estudantes da rede pública (CEFET’s, universidades federais, estaduais e municipais) sobraram o descaso e a falta de investimento em ensino, pesquisa, extensão e capacitação do corpo docente, e ainda uma aceleração do processo privatizante, no tocante a cobrança de taxas e aumento de fundações de direito privado dentro das universidades públicas, principalmente nas áreas de maior interesse do mercado financeiro.
O resultado real do mencionado desastre, nos Ensinos Fundamental e Médio, perceber-se-á em alguns anos, quando de fato poderemos sentir os frutos advindos de tais políticas educacionais, onde se reafirmam cada vez mais um caráter apenas informativo e praticante de um individualismo sem medidas.
O fato de aumentarem as vagas das séries iniciais nas escolas públicas não representa a tão sonhada democratização do acesso à educação, uma vez que, acesso não significa necessariamente permanência e por conseguinte, permanência não é resultado de qualidade; se compararmos a quantidade de vagas criadas no ensino público com o aumento populacional nos anos de 1990 a 2001, perceberemos que a demanda por vagas foi maior, ou seja, o que se alardeia é que "...aumentamos as vagas na Escola Pública", mas após aumentarem as vagas do Ensino Fundamental, o mesmo não aconteceu ao Médio e Superior, e aí não fizeram mais do que acompanhar o crescimento vegetativo, mesmo levando em consideração as pessoas que se formaram nesse período, pois sempre a quantidade de ingresso na escola pública é maior que a de formatura.
É verdade que não há mesmo como negar o aumento de vagas na rede particular, tendo em vista que sobram vagas, mas apenas para os ricos, pois os preços cobrados são exorbitantes; neste sentido, em medida alguma houve democratização do acesso como dizia "pretender" o governo federal; o programa de financiamento para estudantes, o FIES, não atende a demanda, além de cobrar juros mais altos que dos produtores rurais; a inadimplência experimentou um aumento em demasia. O ensino privado foi mercantilizado, sobretudo a partir de 1990, a ponto de chegar a representar arrecadação próxima do que movimentam os setores de Energia e Telefonia juntos (mesmo depois da privatização desses setores), onde a educação é responsável por cerca de 9% do PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, 90 bilhões de reais. Só para ter uma idéia da importância adquirida por este setor, após as políticas neoliberais o faturamento das instituições de ensino privado subiu de 3 bilhões em 1997 para 10 bilhões de reais em 2001, o que nos mostra como a educação privada virou um grande negócio. De posse desses dados, como acreditar que houve investimentos reais na Educação Pública? Se houve mesmo, como explicar este enorme crescimento no setor privado?
Como não há continuidade e sim uma progressiva diminuição planejada de investimento na educação pública por parte do governo federal, na universidade os cursos mais sucateados e de menor importância para o MEC dentre todos, são os de Licenciatura; e quando existem fundações de direito privado, essas estão justamente nas áreas mais rentosas para o mercado. Então, diante desse quadro de menor importância, sobretudo por haver um grande financiamento destinado para os empresários do setor privado – que também não usam tais empréstimos nas Licenciaturas – cresce em grande medida as empresas de plantio e reflorestamento, onde figuram e se destacam os Eucaliptos.
Com essa maldita lógica – a de debilitar e sucatear a estrutura e não investir nos cursos para formação de professores na Universidade Pública e, não investigar, não acompanhar e fiscalizar a qualidade da rede privada e ao mesmo tempo "aumentar as vagas, equipar com computadores..." as escolas dos Ensinos Fundamental e Médio da Rede Pública – não há como acreditar ser fácil que ainda nasçam Jequitibás em meio a isso tudo.
Mesmo dentro desse emaranhado planejado, além dos poucos jequitibás já frondosos e até mesmo quase em vias de passamento, ainda há os que estão por descobrir-se, não que não existam, só estão em período de dormência, como acontece a algumas sementes e, justamente por estarem em tamanha dormência é que podemos, tal como eles mesmos, despertá-los, descobri-los, arrancar-lhes seus invólucros ideológicos, onde poderão crescer e se perpetuar até o nascimento de outros.
Em boa hora, dentre esses eucaliptos plantados em série e crescidos enfileirados, domesticados, certinhos como o modelo idealizado pelos donos do capital, do tipo linha de produção em uma fábrica, haja também outras espécies de árvores que tal como acontece em reflorestamentos, sempre acabam surgindo antigas árvores, do próprio lugar ou até mesmo levadas – as sementes – pelo vento, pela chuva, roedores..., também é verdade, que talvez não existam muitos jequitibás, mas na desordem das coisas podemos ser um dos condutores de tais sementes ou mesmo e simplesmente um arrancador dos invólucros de dormência induzida. Talvez assim, quando formos perguntados sobre quem somos nós, respondamos realmente o que somos, uma pessoa; e não o que fazemos, não pela nossa profissão ou função.
Então, nessa desordem planejada, quase não vemos jequitibás, educadores no sentido mais nobre do termo, pois parece mesmo que desapareceram igualmente a algumas profissões do tempo de nossos avós; por ora, o que vemos são as enormes fileiras de professores, ou simplesmente meros repetidores de conhecimento, dadores de aula, como eucaliptos para alimentar fornalhas, caldeiras, churrasqueiras, fábricas de papel e por fim alimentar o maldito vício de acumular riquezas.

província da nação bororo.
poguba, 11 de setembro de 2002.

Big Bosther Brasil 2:
os subprodutos e a grande vencedora do programa

Lembra de quando estudamos o Brasil colonial? Não tinha uma coisa de Ciclo da Cana, Ciclo do Ouro e não sei mais o quê? Então, junto com os ditos ciclos estudávamos também seus subprodutos – que na verdade de sub não tinham nada, alguns rendiam tanto quanto o produto principal – como por exemplo no ciclo da cana, tinha-se a cachaça, a rapadura, e até mesmo o melado; Assim chamados de subprodutos da Indústria Canavieira.
Um exemplo atual é o conjunto de programas de espetáculos de realidade em moda aqui no Brasil, ou melhor, em ciclo – poderíamos até chamá-lo de "Ciclo do Reality Show", – que são copiados, a todo instante, de Emissoras de Televisão dos Estados Unidos e de alguns países da Garapa, perdão, da Europa. E de tal conjunto, um merece atenção especial, ou melhor, desatenção seria o suficiente para não mantê-lo no ar; o Big Bosther Brasil 2, da Rede Globo de Televisão.
Não há como agüentar o programa que é mesmo uma Bosther, não é?! Não contentes em vender seus produtos a todo momento, ludibriar os teleeleitores, desculpe-me, os telespectadores com suas falsas e maldosas informações, ainda cobram-se para assistir um verdadeiro teatro de aberrações e insultos à nossa paciência; um típico besteirol visto também em alguns filmes hollywoodianos de péssima qualidade; os programas daqui, por sinal, coseguem ser piores.
E seguimos pagando R$ 0,27 + impostos a cada ligação de cada brasileiro, com o agravante de tal emissora explorar a falsa rixa entre os estados, enfiando na maldita casa doze pessoas de estados diferentes, rixa esta, que por ora, ela mesma ajudou a construir, tal como entre brasileiros e argentinos, e recentemente por ocasião da copa, entre brasileiros e franceses, que em boa medida tal rixa não existe, tendo em vista a maioria das pessoas não conhecer direito o próprio Brasil.
O insulto maior vem nos intervalos, sempre nos dizendo "se você quiser eliminar o fulano ligue ... ou se quiser eliminar o sicrano ligue...", não haveria um jeito de eliminar o programa inteiro? Ou a própria Globo, sei lá?! "Se liga, Brasil!", não, não, é melhor não! Assim o povo acaba pagando mais outros R$ 0,27 + impostos para responder a perguntas proféticas, de corar qualquer Nostradamus!
Quando acabar o programa, desculpe-me, é que de tanto falar a gente acaba sendo levado pela onda – mas voltando ao assunto, quando terminar o último episódio de tal série, no caso a série de número 2, acontecerá a mesma coisa que na de número 1, desde os primeiros "eliminados" até o "vencedor", todos eles já haverão aparecido milhões de vezes em tudo que é programa (da Globo, é claro!), revistas pornográficas, revistas de moda e beleza para classe média e alta, sítios na Rede (Internet), placas de propagandas (outdoor), palcos de bordéis e afins e quiçá até mesmo em campanhas beneficentes. Então os eliminados e o vencedor são em grande medida os subprodutos dessa indústria, a do "Reality Show", pois o que nos salta numa primeira olhadela é a disputa no tão "concorrido" jogo pelos candidados ao prêmio de R$ 500 mil, cifra conseguida com pouquíssimos comerciais inseridos nos intervalos – mas
analisando bem, o principal produto é a continuidade da presença do telespectador em frente ao televisor, ou seja, a audiência acaba sendo a real disputa, o verdadeiro jogo. O que vier com os bois é lucro!
Ao que parece, tal indústria já figura até mesmo nos coeficientes das exportações e o que é pior, tende a se firmar no "mercado", sobretudo por haver um grande número de produções de outras tantas concorrentes no mesmo ramo. A exploração dessa parcela do mercado e de consumidores além de ser muito rentosa, é algo incrível, pois o que se consegue com o jogo das inscrições, das ligações, das propagandas etc, não chega nem perto das jogatinas politiqueiras. Pois quanto maior for a audiência, maior será o ganho nas negociatas e acordos políticos. E a prova maior de que vai se firmar mesmo como ciclo, é a grande quantidade de ideologia empurrada com a finalidade de mascarar a realidade, sacralizando um candidato e profanando outros tantos, ainda mais agora, por ocasião da proximidade das eleições gerais desse ano; sobretudo por tal audiência só agora ser conseguida em decorrência de tais programas. Não demora e veremos os programas aparecerem-nos com números de série, código de barrras...!
O grande vencedor do Fama, perdão, do Big Bosther Brasil 2, deveria ser aquele passarinho, como é o nome dele, mesmo? Não é uma gracinha?! Eu acho, e ainda mais, além de ser bonitinho, é quietinho, não incomoda ninguém, não suja, não finge, não chora falsamente, não tenta enganar os "espiadores", não tem que responder as idiotices do apresentador, não implora a ninguém, não está interessado no prêmio – se bem que vindo da Globo, depois de chocar o Brasil com "O Crone", pede-se desconfiança, no mínimo cautela! – não reclama, não diz besteiras o tempo todo, ou melhor, nunca disse uma bobagem sequer, nem vive falando mal dos outros passarinhos, quão dirá dos concorrentes da casa, também nunca se ouviu na conversa dele um "piiiiiiii" censurador – que por sinal só aparece na programação aberta, ou seja, a do povão, pobre e que nunca ouviu nem disse cara"piiiiiiiiiiii..." (sic)!
Mas lamento muito por ser obrigado a informar-vos sobre a vencedora do programa. Como posso lamentar se a Cida merece mesmo o prêmio?! Não, não disse que é a Cida nem a outra, pior ainda, a grande vencedora do programa éééé...
...ééééhh, a Glo-bo!!!! Como assim, a Globo? Isso mesmo, a Rede Globo de Televisão. Se houve algum ganhador real nessa história toda só pode ter sido ela.
"Ah! Mais e quem ganhou o prêmio de R$ 500 mil?" não, não é isso. É claro que todos os participantes tiveram algum lucrinho expondo suas tolices. Mas diante do montante geral de arrecadação da emissora, tais cifrinhas não representam absolutamente nada.
Há momentos em que penso algum dia poder usar Televisão no plural para uma emissora qualquer. É verdade, já imaginou: "Rede Fulano-dos-anzóis-carapuça de Televisões" não ficaria legal?!
Mas é óbvio que só conseguiríamos ter múltiplas, amplas e profundas visões com uma Televisão Pública. Que em grande e boa medida não fosse refém de nenhum tipo de poder extraordinário ao povo. Que não formasse um pensamento único a serviço de ninguém, a não ser para o conjunto de trabalhadores, a maioria. Que falasse verdadeiramente em nome de tal maioria, e mais ainda, a representasse de fato.
Então, enquanto não conseguimos uma Televisão Pública, façamos das atuais emissoras de Televisão os nossos subprodutos, no sentido de não ser o produto principal a ser consumido.

da província da nação bororo,
em 12 de julho de 2002.

Cuiabá situa-se no litoral!

_ Tu leitor, deves estar pensando: Que tamanha besteira! Quanta idiotice! Mas só assim para chamar-te a atenção. Cuiabá não fica mesmo no litoral, muito menos na borda ou ainda na divisa com algum outro estado, portanto situa-se onde? Não exatamente no centro do estado, mas dentro, no interior.
Pergunto-te ainda : Qual critério usas para relacionar a Capital e "Interior"? Será que este termo carregado de preconceito, que vem sendo usado costumeiramente pelos meios de comunicação, não remete à idéia de que a capital situa-se no litoral, na borda, ou na divisa com algum estado?
A discriminação para com as demais cidades do estado é explícita: "...ah, você é do interior, né?". Como se não morar na capital fosse desprestígio, atraso ou pobreza.
Orgulhas de quê? Da poluição? Da miséria? Das favelas? Do desemprego? Dos assassinatos? Da fome? Dos rios imundos? Dos criminosos? Do analfabetismo enorme? Da corrupção(seja esta ligada a partidos políticos ou não)? Do mal uso da política?... Pensando bem, a capital está na frente ... .
Indignado? Também estamos , óbvio que a capital tem coisas boas, como nós do "interior" também as temos, nem por isso vos tratamos mal.
Só mais uma provocação, um insultozinho: "Num sei cumé qui nóis viveu inté hoje sem tê um ‘Mec Donaldis’ e um relojão dus 500 anos du discubrimento, desses da Rede Grobo, esta memo qui prega essa paiaçada; na verdade foi memo uma invasão, né?".
É assim que vês o mato-grossense das demais cidades, ou do tal "interior", (se assim preferes) não é mesmo?
(...)
(texto de maio de 1999, qdo me mudei para Rononòopolis -MT, publicado no jornal A Tribuna; como hào de perceber, està a faltar um pedaço... e também minha lembrança para completà-lo como fora concebido; diante disso, prefiro deixà-lo como o encontrei, depois de haver perdido quase todos da mesma época)

nômade, de qualquer jeito e em qualquer tempo...

nômade, de qualquer jeito e em qualquer tempo...
"...eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim, meu mundo é hoje, não existe amanhã pra mim, eu sou assim, assim morrerei um dia, não levarei arrependimentos nem o peso da hipocrisia..." Paulinho da Viola